Bruna no papel de Diadorim e Tony Ramos, como Riobaldo.
Companheiro de Riobaldo, o narrador protagonista na minissérie recém-lançada em DVD pela Globo Marcas (quatro discos, R$ 69,90) e dirigida por Walter Avancini (1935-2001), Diadorim é um dos personagens mais complexos da literatura brasileira que, graças aos esforços da atriz, conquistou 10 milhões de espectadores quando os 25 capítulos de Grande Sertão: Veredas foram exibidos entre novembro e dezembro de 1985.
Como se sabe, Riobaldo só descobre que Diadorim é mulher depois de sua morte, no epílogo filmado com delicadeza e ousadia. Nele, Bruna, até então vestida com roupas rústicas para enfrentar a aspereza do sertão, aparece nua para deleite dos telespectadores e tristeza de Riobaldo (Tony Ramos) - por ter resistido em vão ao assédio de Diadorim. Transformada em Reinaldo para enfrentar a dura realidade sertaneja, Diadorim é o personagem mais complexo desse épico que, publicado em 1956, ainda corre mundo conquistando novos leitores - a recente tradução argentina (Editorial Adriana Hidalgo), lançada em 2009, acaba de ser comparada pelos críticos ao Ulisses de James Joyce.
Causa impacto aos críticos estrangeiros a forma com que Riobaldo, o narrador e protagonista da história, interpela um interlocutor que jamais aparece no épico. Esse ex-jagunço órfão, que passa de matador de aluguel a mestre, transformando-se num homem religioso após ter feito um pacto com o Diabo, atravessa o sertão como se cumpre um rito de passagem para o (auto)conhecimento, acompanhado nessa via-crúcis por Diadorim, que encarna o enigma desse território não nomeado em que até Deus deve vir armado para enfrentar seu inimigo.