Em Março de 1961, a UPA revolta-se contra a presença portuguesa em Angola. Surpreendendo civis e militares, massacra milhares de europeus e africanos no norte do território. Os efectivos existentes na colónia são muito reduzidos. Os civis procuram defender-se, apoiados pela Força Aérea que usa napalm contra os rebeldes, ao mesmo tempo que retira mulheres e crianças das áreas atingidas. A UPA refugia-se nas matas e ataca as colunas, entretanto enviadas de Luanda. Morrem os primeiros militares.
Antes dos ataques da UPA, em Março, Já o pânico dominava Luanda desde 4 de Fevereiro, quando centenas de angolanos assaltaram as prisões da cidade. A resposta portuguesa, civil e militar, leva o terror aos muceques. E a violência sem limites propaga-se a todos os grupos sociais, quando o 15 de Março lança o pavor em todo o norte. Angola reclama por apoio militar, mas Salazar só mandará "andar rápido e em força", depois de afastar Botelho Moniz, o general que, entretanto, tentara depô-lo.
O primeiro dos grandes contingentes militares enviados de Lisboa desfila, em 1 de Maio, na avenida marginal de Luanda, perante a alegria da população. As colunas começam a marchar para o norte, com ordens para cortar e exibir as cabeças dos rebeldes mortos. Mal preparada e desconhecendo o terreno, a tropa sofre baixas, reocupa povoações e socorre populações ameaçadas. Ao morticínio cometido pela UPA, civis e militares reagem com massacres e fuzilamentos.
Quatro meses depois da ofensiva da UPA, os militares estão em condições de recuperar o domínio do -território. Montam a operação Viriato e avançam para Nambuangongo, centro operacional rebelde. As forças de Holden Roberto recuam perante as operações portuguesas, o que permite o regresso de milhares de refugiados às suas povoações. Apoiando discretamente a UPA e insistindo na descolonização, os Estados Unidos proíbem a Portugal o uso de armas americanas e seguem o conflito, atentamente.
O ambiente internacional era hostil à permanência de Portugal em África. A Conferência de Bandung, em 1955, marca a luta pela descolonização adoptada pela ONU. Salazar argumenta que os territórios ultramarinos são províncias dePortugal, mas o quadro social revela baixos níveis de instrução para os africanos e a existência de trabalho forçado e castigos corporais. O Governo faz reformas na área económica e incentiva a emigração, criando colonatos de brancos em Angola e em Moçambique.
Os portugueses estavam mal informados e confiavam na diferença da sua colonização. Os que discordavam das limitações económicas impostas pela Metrópole, apoiaram Humberto Delgado em 1958. Nessa altura estavam já em formação alguns dos movimentos Independentistas. Vários dos seus futuros líderes tinham estudado em Lisboa. Nas três colónias, a guerra é antecedida por reivindicações reprimidas pelas armas: Pidgiguiti na Guiné, Mueda em Moçambique e Baixa do Cassange em Angola.
Em Janeiro, os povos da Baixa do Cassange entram em greve contra a cultura obrigatória do algodão. A reacção militar portuguesa ficou para a História como um massacre. Pouco depois, as chacinas da UPA, que marcam o início da guerra, estimulam outros africanos independentistas. Disparados pelo MLG, soam os primeiros tiros na Guiné. Ainda em_1961, a invasão de Goa marca o início do fim do Império. Dominada a situação em Angola, Salazar dispensa as reformas de Adriano Moreira.
A UPA transforma-se em FNLA e o MPLA cria a sua própria guerrilha. Os dois movimentos angolanos irão oombater-se durante toda a guerra. O exército tenta impedir as infiltrações através das fronteiras com o Congo. Mas é das fronteiras da Guiné Conacry que surge um novo desafio. Em Janeiro de 1963, o PAIGC avança para a luta armada na Guiné. Meses depois, Salazar plebiscita a sua política numa grande manifestação a que assiste a americana Janet Mondlane, mulher do lider da Frelimo.
A repressão em Mueda empurra os moçambicanos para a formação da Frelimo. Sob a direcção de Eduardo Mondiane, o movimento organizará a luta armada, entretanto iniciada por outro movimento. Em 1964, Portugal está perante três frentes. A mais difícil é já a da Guiné onde decorre, durante mais de dois meses, a operação Tridente, uma das maiores de todo o conflito. A guerra está no centro da vida do País. Chamado "dia de Portugal e da raça", o 10 de Junho passa a homenagear as Forças Armadas.
O MPLA ataca em Angola, retirando à FNLA o monopólio da luta armada. Em Moçambique, é a FRELIMOque avança nos distritos do Norte, obrigando a sucessivos reforços das forças portuguesas. Pelas minas usadas pela guerrilha, o Niassa é conhecido entre os militares como o "estado de minas gerais@. Mueda, em Cabo Delgado, é a"terra da guerra". De todo o Ultramar, as mensagens televisivas dos soldados são ansiosamente esperadas em cada Natal que passa.
Aconselhado por Mao Tsé Tung, Savimbi escolhe o Leste e projecta a UNITA ao atacar Teixeira de Sousa, no Natal de 1966. Apesar da situação, o governador-geral de Angola afirma que a guerra está praticamente ganha. Por seu lado, na Guiné, onde o PAIGC é cada vez mais activo, o comandante-chefe garante que o território jamais deixará de ser português. Enquanto chegam à Europa notícias de violências praticadas por militares, um capelão questiona a guerra no altar de uma Igreja já dividida.
Salazar deixa o poder, sete anos depois do início da guerra, sem ter conhecido as colónias e com a promessa de visitar Angola depois de "dominado ou expulso o último terrorista". Ainda é ele quem nomeia Spínola p— -Guiné, sem saber que irá opôr-se à sua política. O novo comandante-chefe altera o disDosltívo n começando pela retirada de Madina do Boé, marcada por um desastre no Rio Gort no Governo, nasce a esperança de uma primavera para Portugal e Colónias.
Meio ano depois de chegar ao Governo, Marcello Caetano visita o Ultramar. Cor de "autonomia progressiva" que muitos desejavam e outros temiam. Pouco antes, cuuaruu w assassinado, deixando a FRELIMO numa crise profunda. Purgas, deserções e mortes marca movimento que passa a ser dirigido por Samora Machel. E derrotada a linha de Urig Sin reformistas que virão a ser mortos já depois da independência de Moçambique.
Para enfrentar os avanços da FRELIMO, os generais portugueses abandonam as grandes operações militares e procuram conquistar as populações. Constroem aldeamentos nos três territórios, tentando opôr-se à progressão dos movimentos armados. Estes, por sua vez, procuram também controlar as populações nas áreas em que estão e a que chamam zonas libertadas. Do lado português, as guerras em Angola, na Guiné e em Moçambique estão nas mãos de três generais com conceitos diferentes.
Marcello Caetano inicia uma abertura política, mas não encontra uma solução para a guerra. A necessidade de efectivos obriga Portugal a um crescente recrutamento de nativos, acentuando a africanização da guerra. No Leste angolano, mais de metade dos soldados integram forças auxiliares africanas: Grupos especiais, Flechas e também os TE que deixam a FNLA mediante promessas de autonomia de Cabinda em relação a Angola. Grande parte da guerra faz-se entre angolanos: MPLA, FNLA e UNITA.
Dez anos após o início da guerra, a economia angolana prospera. No plano militar, o MPLA experimenta grandes dificuldades no Leste, principal teatro operacional. As ofensivas portuguesas desarticulam o movimento através de operações prolongadas, efectuadas por forças especiais helitransportadas. Enquanto o MPLA não consegue estabelecer a ligação entre o Leste e o Norte, seu principal objectivo, a UNITA procura sobreviver pressionando os madeireiros que trabalham nas zonas sob o seu controlo.
Na sequência da colaboração que exige aos madeireiros, Savimbi estabelece um acordo de tréguas com as autoridades. A UNITA não ataca as forças portuguesas e coopera com elas no combate ao MPLA. Em contrapartida, os militares aceitam e apoiam a sua presença numa zona demarcada do território. A situação começa a alterar-se com a substituição do comandante da Zona Militar Leste. As operações militares não conseguem capturar Savimbi, mas permitem importantes apreensões.
Spínola faz guerra e faz política. Subordina a manobra militar à acção psicossocial, tentando conquistar as populações e o próprio PAIGC. Ele mesmo vai à mata conversar com guerrilheiros no âmbito de uma operação que termina com o massacre de três majores. No entanto, o general prossegue com a sua política “Por uma Guiné Melhor”. Desenvolvendo o território e explorando a divisão entre guineenses e cabo-verdianos, o governador e comandante-chefre consegue pereturbar a luta do PAIGC.
A guerra na Guiné e a importância da aviação, nomeadamente do helicóptero. O uso do napalm pelos portugueses, os ataques a quartéis, por parte do PAIGC. O general Spínola, Governador e Comandante-chefe, investe na criação de uma força indígena, assente nos Comandos Africanos, como umembrião de forças armadas guineenses, no quadro de uma autonomia sob a autoridade portuguesa. Entretanto, desencadeia a Operação Mar Verde (Novembro, 1970) para decapitar o PAIGC e retirar-lhe o apoio da Guiné-Conacri derrubando Séku Touré através de um golpe de estado. Envolvendo cerca de 400 homens, a invasão de Conacri é a última grande operação naval portuguesa e ainda hoje não reconhecida oficialmente. Nem o Governo nem a Presidência de República se pronunciam.
Baltazar Rebelo de Sousa, Governador-geral de Moçambique, promove uma política de integração, nomeadamente, na área cultural e uma aproximação à comunidade muçulmana. Servindo-se da influência de Jorge Jardim, fomenta a cooperação com o Malawi, de Hastings Banda. Durante anos, a Marinha deste país foi comandada por oficiais da Armada Portuguesa que assim controlava as águas de Lago Niassa. O general Kaulza de Arriaga, comandante-chefe, lança-se na operação Nó Górdio (Junho, 1970) a maior de toda a guerra. Uma acção que chega a ameaçar a seriamente a Frelimo, mas não surpreende os guerrilheiros nas suas bases. A guerra vai centrar-se então no Distrito de Tete, onde grande parte das forças portuguesas ficam afectas ao dispositivo de defesa da obra de Cabora Bassa.
Com o projecto de Cabora Bassa, envolvendo vários países, o governo português quer demonstrar que pretende continuar em África e que conta com apoio internacional. Entretanto, os meios exigidos pela construção da barragem limitam os planos de Kaulza de Arriaga, o general comandante-chefe em Moçambique, que pretendia completar os efeitos da operação Nó Górdio com a realização da operação Fronteira, destinada a impedir a entrada de guerrilheiros no território. Grande parte dos efectivos portugueses terão que deslocar-se para o Distrito de Tete, onde a guerrilha intensificava a sua actividade desde 1968. Ao contrário do que anunciava ser seu objectivo, a Frelimo não atacou a obra de Cabora Bassa. Ou porque não tencionava fazê-lo ou porque foi impedida pelo dispositivo de segurança montado pelos portugueses.
Em Moçambique, o general Kaulza de Arriaga promove a africanização, através da criação de Grupos Especiais e de Grupos Especiais de Pára-quedistas, forças comandadas por militares portugueses, mas constituídas apenas por moçambicanos. Para o comandante-chefe, o recurso a estes grupos resultava da necessidade de enfrentar a crescente falta de efectivos. Para o engº Jorge Jardim – que influenciou a sua formação – eles seriam uma tropa para um Moçambique futuro. Considerado como um terceiro poder na colónia, Jorge Jardim actuava política e militarmente, sendo agente de operações, por vezes armadas, em países vizinhos de Moçambique.
Se no Leste de Angola, os portugueses se aliam à UNITA, contra MPLA e FNLA, no Norte chegam a proteger o MPLA para que ele se oponha à FNLA. Os três movimentos estão, de certa forma, neutralizados: Savimbi coopera com as Forças Armadas, Holden Roberto e Agostinho Neto enfrentam revoltas internas. Derrotado no Leste, o MPLA divide-se numa forte contestação, liderada por Daniel Chipenda, que ficou para a História como a Revolta de Leste.
A esperança do marcelismo fica hipotecada com a reeleição de Américo Tomás. Ao mesmo tempo, Spínola ganha protagonismo na Guiné. Convicto de que a guerra não tem solução militar, tenta explorar a via das negociações. Reune-se com Senghor, presidente do Senegal, e acredita num futuro encontro com Amílcar Cabral, mas Marcello Caetano proibe-o de continuar os contactos. A guerra continua, tal como as acções do Movimento Nacional Feminino.
Na Guiné, de destacar o período marcado pela morte de Amílcar Cabral e o subsequente recrudescimento do conflito. Recebendo novos meios, como os mísseis terra-ar "Strela", o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) condiciona a manobra portuguesa. Isola e ataca quartéis como Guidage e Gadamael e obriga ao abandono de Guileje.
A guerra chega a Tete! Isso inquieta a Rodésia e a África do Sul que estreitam a cooperação militar com Portugal. Para controlar as populações, os portugueses promovem o seu aldeamento forçado. A Frelimo ataca… A disciplina dos movimentos armados, inclui o recurso a fuzilamentos.
O endurecimento da guerra em Moçambique vai determinar o aparecimento de situações novas e novos protagonistas. O caso de missionários espanhóis que acusam tropas portuguesas e rodesianas de atrocidades na zona de Mucumbura. Acabam por ser presos, tal como dois padres portugueses que reproduziram essas denúncias nas suas missas: Joaquim Sampaio e Fernando Mendes, párocos da Igreja do Macúti, que são julgados e condenados em Tribunal Militar. Eles e outros ex-reclusos contam como se vivia na Cadeia da Machava, a prisão da DGS por onde passaram milhares de pessoas ao longo dos anos e que podemos ver através de filmagens surpreendentes existentes no Arquivo da RTP. O governo português persegue e expulsa de Moçambique muitos missionários e padres que, com a sua atitude perante a guerra, entram em ruptura com a hierarquia da Igreja.
A Operação Marosca, conduzida por comandos portugueses, ficou para a história como o massacre de Wiriyamu. A enfermeira Djamila Dessai, acompanhava o director do Hospital de Tete, o médico José da Paz, a partir daí silenciado pela Pide/DGS. Os relatos dos missionários chegaram à imprensa internacional, abalando o governo de Marcelo Caetano.
Perante a descoberta, numa aldeia, de quase três dezenas de esqueletos, o governo de Marcello Caetano reconhece a existência de um massacre na zona de Wiriyamu e ordena um novo inquérito. Mantidos em segredo até agora, os seus resultados são revelados neste episódio de "A Guerra". O caso ilustra também o crescente envolvimento de missionários na luta contra a guerra, atitude que não se confina a Moçambique. Em Lisboa, religiosos e leigos não só fazem uma vigília na capela do Rato, como se aliam à oposição armada que entretanto começa a atuar em Portugal.
Na Guiné, a guerra vai intensificar-se após a morte de Amílcar Cabral. O PAIGC recebe novos apoios dos seus aliados, sendo o mais importante o míssil terra-ar, Strella, fornecido pela União Soviética. A Pide desvalorizou as informações que recebeu e a nova arma surpreendeu os portugueses. E levou os pilotos a suspender os voos. Em duas semanas, a Força Aérea perdera quatro pilotos e seis aviões, por acção dessa arma que desconhecia e lhe vai retirar o domínio do ar. A partir de agora, o PAIGC passa a poder atacar quartéis à luz do dia, beneficiando de um condicionamento da Aviação que afecta a segurança da tropa em terra. O conflito caminha para uma guerra convencional, enquanto a guerrilha se moderniza com armamento superior ao português.
Em Maio de 1973, o quartel de Guidage está cercado pelo PAIGC. Uma das situações mais difíceis da guerra na Guiné, que o Batalhão de Comandos Africanos vai tentar resolver... A operação Ametista Real, contra uma base do PAIGC no Senegal, resultou em muitas baixas.
Ainda decorria a dura batalha de Guidage e já o PAIGC abria uma nova frente de combate: Guileje, um quartel no sul da Guiné. Com uma emboscada a guerrilha inicia o ataque. Após três dias de bombardeamentos, o comandante optou pela retirada. Um caso único, na história da guerra.
Após mais de um mês de cerco, o quartel de Guidage, resistiu à ofensiva do PAIGC. Mas, entretanto, começava um ataque organizado a uma outra posição portuguesa: Guileje, no sul, fora um alvo da guerrilha, ainda identificado por Amílcar Cabral. Após longa preparação, o PAIGC desencadeia fortes bombardeamentos de artilharia. Três dias depois, o comandante considerou não ter condições para defender o quartel e abandonou Guileje com toda a guarnição. Um caso único, em toda a guerra.
Em Gadamael, no sul da Guiné, poderia ter ocorrido um grande desastre militar. Perante ataques do PAIGC, quase toda a guarnição se refugiou no rio, ficando um pequeno grupo a defender o quartel. Spinola ameaça afundar um bote com militares em fuga. Também proíbe o socorro dos náufragos, grande parte civis, mas a marinha e os fuzileiros não cumprem a ordem. Pouco depois, o general deixará a Guiné, dizendo-a indefensável, enquanto Kaulza de Arriaga afirmava que poderia vencer a guerra em Moçambique. Nessa altura, a FRELIMO atuava já em Manica e Sofala, tencionava lançar a guerrilha urbana na Beira e planeava mesmo abater um avião da TAP.
A série “A Guerra” permite, finalmente, conhecer o que se passou na zona de Inhaminga, em Moçambique. Antigos militares falam, pela primeira vez, dos massacres ali cometidos pela PIDE/DGS, com a cobertura do comandante do quartel local: o fuzilamento de centenas de africanos. O caso foi denunciado pela Missão dos Sagrados Corações, num momento em que a Igreja em Moçambique estava dividida entre a hierarquia, que apoiava o governo, e um número crescente de missionários expulsos, acusados de colaboração com a FRELIMO. Entre estes, contam-se os combonianos autores do documento Um Imperativo de Consciência e também Manuel Vieira Pinto, o bispo de Nampula, que os apoiou.
No início de 1974, o governo manda informar Savimbi de que em breve dará a independência a Angola. Enquanto as autoridades políticas procuram negociar um cessar-fogo, os comandos militares tentam aniquilar a UNITA. A FNLA está então pouco activa e o MPLA em grave crise: os seus últimos esquadrões são derrotados no leste do território, enquanto Agostinho Neto é contestado pela Revolta de Leste e pela Revolta Activa, duas facções internas.
O regime derrubado em 25 de Abril não conseguiu resolver o problema ultramarino. Mas sabe-se agora que foram vários os contactos exploratórios com movimentos africanos. Santos e Castro, parecia disposto a uma atitude radical, face ao governo, em favor de uma solução política. O último governador de Angola parecia retomar a linha do primeiro que fora enviado para enfrentar os ataques devastadores da UPA, em 1961: o general Venâncio Deslandes que entrou em colisão com Adriano Moreira, Ministro do Ultramar, sendo ambos demitidos por Salazar. Tinha ele um plano emancipalista para Angola? Meio século depois, um membro do seu governo assume que o objectivo era uma autonomia progressiva que caminhasse para a independência. Um projecto que gerou entusiasmo entre a população branca.
Marcelo Caetano teria combinado com o governador Santos e Castro, a proclamação de uma independência de Angola. Seria em Massangano, em 1974 ou 75. Uma decisão desesperada, numa altura em que já se anunciava uma crescente instabilidade nas Forças Armadas. Perante o reforço do arsenal do PAIGC, que fazia temer por um ataque a Bissau, Spínola declarava a Guiné indefensável e cedia o lugar a Bethencourt Rodrigues, no momento em que a guerrilha proclamava a independência do território. Um legado de Amílcar Cabral, com grande impacto político.
Portugal fica mais isolado no plano internacional, depois da independência proclamada na Guiné, pelo PAIGC. Em Moçambique, à revelia de Marcello Caetano, Jorge Jardim abre uma via para o diálogo com a Frelimo, através da Zâmbia. Com o chamado Programa de Lusaka pensa ter encontrado o caminho para o seu projecto onde tanto cabe o patrocínio dos Grupos Especiais de Pára-quedistas, como os concursos de misses. Espera contar com figuras como Domingos Arouca, Máximo Dias e Joana Simeão. Nomes que aderem ao reformismo de Marcello Caetano, em que acreditam também os sectores que organizam o I Congresso dos Combatentes do Ultramar. Uma iniciativa de que se demarcam cerca de 400 oficiais do Quadro Permanente, facto que representou uma primeira atitude de indisciplina colectiva. Os decretos que regulavam o acesso de milicianos ao Quadro vieram, nos meses seguintes, criar um descontentamento que, gradualmente, se tornou político e conduziu ao MFA.
Em Moçambique, os colonos da região da Beira, acusam os militares de inércia perante a FRELIMO. Atacam a messe de oficiais e chegam a planear a morte de Costa Gomes que vai à colónia avaliar a situação. São os chamados Acontecimentos da Beira que irão impulsionar o avanço do Movimento das Forças Armadas. A situação agudiza-se ainda mais com a publicação de Portugal e o Futuro, o livro de Spinola em que Marcello Caetano vê o anúncio do fim do regime. Mas antes disso, haveria ainda o 16 de Março.
No início de 1974, o PAIGC levava a guerrilha a Bissau, conforme Amílcar Cabral determinara no seu último discurso. E continuava a pressionar posições portuguesas. O destacamento de Copá acabou por retirar e Canquelifá obrigou à última grande operação do Batalhão de Comandos. Em outros quartéis, havia entretanto, quem se recusasse a combater o PAIGC e cooperasse com ele no terreno. Ao mesmo tempo, a PIDE não actuava sobre as actividades do MFA que continuava a organizar-se nas colónias e na Metrópole.
O Movimento das Forças Armadas avança na Metrópole e nas colónias. O moral da tropa é baixo e exprime-se em canções de protesto. Na Guiné, a própria PIDE/DGS só acredita numa solução política para a guerra. Tal como em Moçambique, a situação militar agrava-se. Em Angola, enquanto controlam as acções do MPLA e da FNLA, os portugueses procuram um novo acordo com a UNITA. Já depois do 25 de Abril, o movimento de Savimbi mata 17 militares portugueses, na sua mais violenta emboscada.